segunda-feira, 18 de novembro de 2013

MENSAGENS NÃO VINCULADAS A TÓPICOS

A santa Paz de Deus!

Amados irmãos, ultimamente tenho recebido várias mensagens em meu blog não vinculadas aos tópicos, mensagens estas com perguntas dos mais variados temas. Às vezes, eu fico sem dar respostas em razão de não haver endereço eletrônico (e-mail) ou não estar vinculada a nenhum dos tópicos. Caso algum irmão (a) desejar enviar alguma mensagem para mim desvinculada dos tópicos, por favor, deixo meu gmail à vossa disposição:

apologia.didache.ccb@gmail.com

Somente assim eu poderei respostar - assim que puder - os e-mails recebidos, caso contrário, é impossível eu retornar as mensagens que me enviam. Espero que os irmãos compreendam.

Do vosso irmão em Cristo Jesus

Romário N. Cardoso

terça-feira, 12 de novembro de 2013

QUEM É O SERVO SOFREDOR EM ISAIAS 53?


Existe controvérsia de opinião até mesmo entre eruditos judeus ortodoxos acerca da referida passagem de Isaías 53, enquanto uns dizem referir-se ao Messias, outros são de opinião de que se refere à nação de Israel, e não de uma pessoa – o Messias.

Lemos nos escritos do profeta Isaias (hebr. Yeshayahu) a descrição de alguém como sendo o “braço” (hebr. zeroa’) e broto, sem beleza e sem aparência, depreciado e abandonado por todos, alguém estando como que enfermo e um de quem os homens escondiam o rosto, alguém aflito e ferido por Deus; alguém que como ovelha muda não abriu a sua boca ante seus tosquiadores. Isaias descreve-O como sendo justo, pois foi ferido pelas transgressões dos outros, e oprimido "pela transgressão do meu povo". 
 
Isaias fornece detalhes de que todo sofrimento que sobreveio ao justo sofredor e ainda ter sido “cortado da terra dos viventes” foi pela transgressão do “meu povo", isto é, Israel (Isaias 53.7). O servo sofredor entregou a sua alma e se deixou enumerar entre os transgressores suportando os pecados de todos. O servo sofredor intercede pelos transgressores. Desde tempos remotos os primeiros judeus que abraçaram a fé cristã criam que o profeta Isaias se referia ao Messias, a mesma crença era corrente entre antigos rabinos, afinal, Isaias faz separação dos personagens ali descritos, de um lado apresenta "ele" e do outro, "meu povo": 

Ele (Mashîach), foi cortado da terra dos viventes pela transgressão do meu povo (Israel)”. (Isaias 53.8). – O sublinhado e negrito é meu.

Nós, cristãos, cremos que o Messias é Jesus, Yeshua! Cremos que haMashyach veio e foi “cortado da terra dos viventes” (Isaias 53.8) antes de o contínuo sacrifício ser tirado. Aliás, Yeshua (Jesus) profetizou a destruição do Templo, antes mesmo da sua morte (Mateus/Mattityahu 24:1, 2).

Atualmente, certos judeus estão dando nova interpretação para Isaias 53, onde o servo sofredor seria a nação de 'Israel' (?), vejamos uma tradução da Bíblia (Tanakh) em língua portuguesa por eruditos judeus, há “parênteses” na devida tradução que deixam a entender o atual pensamento judaico:

‘Ele (Israel) foi exilado da terra dos vivos pela transgressão do meu povo, e por isso recebeu esse duro golpe’? E seu túmulo foi feito entre os dos malévolos, e sua tumba feita pelos poderosos, embora não tivesse praticado violência nem houvesse mentira em sua boca.” (Isaias [Ieshaiáhu] 53.8, 9 – Bíblia Hebraica por David Gorodovits e Jairo Fridlin – Baseada no Hebraico e à luz do Talmud e das Fontes Judaicas, pág. 440, 1ª reimpressão revisada: janeiro de 2007, Editora e Livraria Sêfer Ltda, São Paulo SP Brasil).

De início, o vocábulo "exilado" não consta no texto da Bíblia Hebraica em sua língua original, o mesmo é dito do "parênteses" (Israel). Ora, o pensamento de que “ele” se refira a Israel, não reflete o pensamento de todos os judeus eruditos e tampouco está de acordo o ensino dos antigos sábios da lei judaica, estes deixaram – para tradição - seus ensinos escritos no Talmud, onde o servo sofredor descrito em Isaias 53 se refere, sim, ao Mashyach/Messias. Se judeus consultarem o Talmud Babilônico (livro que tanto amam) encontrarão em “Sanhedrin 98b” os rabinos - sábios do Talmud - discutindo sobre qual é o nome do Messias, por fim, a conclusão deles, foi:

os rabinos disse: O nome dele é ‘o estudioso leproso”, como está escrito: Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas dores, e as nossas dores: nós o reputamos a ele um leproso, ferido por Deus, e oprimido.”(Sanhedrin 98b).

Sobre o Messias, os rabinos do Talmud citaram Isaias 53.4 como texto messiânico, contrariando o “parênteses” na Bíblia Hebraica onde os tradutores tomaram caminho diferente, indicando “Israel” (?).
Em conformidade com o Talmud e a tradição judaica sobre o Mashyach, vejamos o que se encontra nos escritos do Rabbi J. Immanuel Schochet, sobre o caráter e as qualidades do Mashiach:

Através do seu conhecimento, Meu servo justificará os justos para os muitos...” (Isaias 53:11).” (Immanuel Schochet, Jacob. MASHIACH  - O Princípio de Mashiach e da Era Messianica Segundo a Lei Judaica e sua Tradição, pág. 41, Editora Maayanot, São Paulo, 1992).

Sobre a expressão “Meu servo”, o Rabbi supracitado cita textos genuinamente messiânicos nas seguintes passagens Bíblicas: Isaias 11:2-5; 53:11 e 52:13.

Em Isaias 53:10, no texto original Hebraico encontra-se a palavra "asham", cujo sentido literal é "compensação" (pela culpa), o vocábulo "asham" é uma referência direta aos textos de Levítico 14:21 e 19:21 como "oferta pela culpa/delito" (hebr. asham) que era oferecida no Templo. Portanto, em Isaias 53:10 o Eterno anuncia o Messias sendo oferecido como "asham" do "Meu povo", afinal, a expressão "Meu povo" sempre é referido no Tanakh à nação de Israel, jamais os profetas chamaram as nações gentias de... 'Meu povo'(?), tal conceito é completamente ausente no Tanakh. Em lugar algum de toda a Bíblia há referência de que Israel seria oferecido por asham, isto é, oferta pela culpa; isto é dito apenas acerca do Mashiach, e isto em Isaias 53.10.

Ainda sobre o Messias, é crença judaica que “todas as nações reconhecerão sua sabedoria e excelência, e se submeterão às suas regras” e que “os guiará e os instruirá” (Idem). 

Ora, porventura pessoas de todas as nações não estão reconhecendo e se submetendo às regras ensinadas por Jesus de Nazaré? Porventura o nome mais citado e acessado em livros e redes sociais, não é o nome de Yeshua/Jesus?

Jesus cumpriu a profecia de Isaias 53, sendo cortado da terra dos viventes pelas transgressões do povo, e é Ele quem intercede pelos homens.

Todas as vezes que Israel sofreu castigo da parte de Deus, tal castigo lhes sobreveio como recompensa dos seus próprios pecados (Isaias 1:2, 3 e 4; 59:12), o mesmo não se dá com o servo sofredor que sofreu pelas culpa dos outros, sendo inocente, impecável (Isaias 53:8-9). Há muita coisa a ser comentada em Isaias 53, confrontando a Bíblia Hebraica em português com o Texto Hebraico em sua língua Original, mas páro por aqui.

Shalom aleikhem

Romário N. Cardoso

domingo, 15 de setembro de 2013

SUCO DE UVA OU VINHO?


Antes de qualquer “pedrada” em minha direção, informo que não faço uso de vinho ou qualquer outra bebida embriagante em minha mesa ou mesmo fora dela. Este estudo visa apenas explicar biblicamente sobre o uso ou desuso dessas bebidas entre judeus e cristãos. Esta matéria apresenta os devidos textos e seus significados em seu contexto, sem nenhuma maquiagem ou malabarismo teológico. As devidas referências bibliográficas estarão de vermelho.

NO ANTIGO TESTAMENTO

O vocábulo hebraico “yayin” corresponde à palavra portuguesa “vinho” e sua primeira ocorrência está em Gênesis:

E começou Noé a ser lavrador da terra, e plantou uma vinha. E bebeu Noé do vinho (hebr. yayin), e embebedou-se; e descobriu-se no meio de sua tenda.” (Gênesis 9.20, 21). – O negrito é meu.

Vejamos os mesmos textos em hebraico, transliterado:

vayachel Noach ‘îsh ho’adamah vaytta’ karem: vayeshtte min-hayayin vayishkar vayitgal betokh ‘aholoh”. (Bereshît/Gênesis 9.20, 21). – O negrito é meu.

O termo yayin é palavra habitual para uva fermentada:

Esta é a palavra hebraica habitual para se referir à uva fermentada. É, em geral, traduzida por “vinho”. Tal “vinho” era bebido comumente como refresco: E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho” (Gn 14.18; cf. Gn 27.25).” (Vine, W. E.; F. Unger, Merril; White Jr., William. Dicionário Vine – O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento, pág. 325, 2ª Edição/2003. Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD, Rio de Janeiro, RJ, Brasil). – O negrito é meu.

Fica claro, pois, que o vinho ou uva fermentada era bebido como “refresco”, foi esse o tipo de vinho que Melquisedeque – tipo de Cristo – trouxe para Abraão quando este veio da batalha, vinho fermentado.

O “vinho” era usado para dar alegria, para fazer a pessoa se sentir bem sem ficar intoxicada (2 Sm 13.28). Segundo, o “vinho” era usado na alegria perante o Senhor. Uma vez por ano todo o Israel tinha de se reunir em Jerusalém. O dinheiro percebido (sic) pela venda do dízimo de toda a colheita seria gasto “por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR, teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa” (Dt 14.26). (...) O termo yayin descreve claramente uma bebida intoxicante” (Vine, W. E.; F. Unger, Merril; White Jr., William. Dicionário Vine – O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento, pág. 326, 2ª Edição/2003. Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD, Rio de Janeiro, RJ, Brasil). – O negrito é meu.

Acima em negrito, a palavra “vinho” corresponde a yayin, ao passo que “bebida forte” é termo português para a palavra hebraica shekhar – “evidentemente um tipo de cerveja segundo o Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento de William L. Holladay

Algumas pessoas eram proibidas de beber vinho:

As pessoas, em estado especial de santidade, eram proibidas de beber “vinho”, como os nazireus (Nm 6.3), a mãe de Sansão (Jz 13.4) e os sacerdotes que se aproximavam de Deus (Lv 10.9).” (Vine, W. E.; F. Unger, Merril; White Jr., William. Dicionário Vine – O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento, pág. 326, 2ª Edição/2003. Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD, Rio de Janeiro, RJ, Brasil).

Antes de abençoar Jacó, Isaque bebeu vinho:

Então disse: Faze chegar isso perto de mim, para que coma da caça de meu filho; para que a minha alma te abençoe. E chegou-lhe, e comeu; trouxe-lhe também vinho (hebr. yayin), e bebeu.” (Gênesis 27.25). – O negrito é meu.

O suco que é espremido da uva - não fermentada - é termo distinto de yayin (vinho), cujo vocábulo hebraico é tîrosh:

Assim, pois, te dê Deus do orvalho dos céus, e das gorduras da terra, e abundância de trigo e de mosto (hebr. tîrosh).” (Gênesis 27.28). – O negrito é meu.

Fica evidente a diferenciação entre yayin e tîrosh:

A palavra tîros é distinta de yayin no que se refere apenas ao vinho novo não completamente fermentado (mosto).” (Vine, W. E.; F. Unger, Merril; White Jr., William. Dicionário Vine – O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento, pág. 326, 2ª Edição/2003. Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD, Rio de Janeiro, RJ, Brasil). – O negrito é meu.

Embora “tîrosh” (mosto, vinho novo) é dito que não seja vinho completamente fermentado, tal ideia não ocorre em Oséias 4.11 que é claramente uma bebida embriagante:

A fornicação, e o vinho (hebr. yayin), e o mosto (hebr. tîrosh) tiram o entendimento”. (Oséias 4.11 – Bíblia Sagrada Tradução Brasileira). – O negrito é meu.

O que o texto está dizendo é que os três fazem perder o sentido, trazendo descontrole. O equivalente do hebraico tîrosh, na versão grega Septuaginta é “methysma” (bebida embriagante), vocábulo derivado de “méthê” (embriaguês, bebedeira), falta de moderação. Entretanto, algo digno de nota também é dito acerca do vinho:

O vocábulo hebraico yayin é etimologicamente igual ao grego oinos e ao latino vinus. Hamar é nome aramaico, e hemer é etimologicamente equivalente a ele empregado na poesia hebraica. A palavra hebraica yayin aparece na Escritura pela primeira vez, referindo-se ao suco fermentado da uva, Gn 9.21; não há motivos para crer que tenha outro significado nos lugares em que se encontra. O grego oinos também se refere a suco fermentado, salvo quando é acompanhado do adjetivo novo; mesmo assim, não se pode dizer que haja dois vinhos, um fermentado e outro não. O mosto chama-se vinho novo, e só se torna vinho por meio da fermentação. Dizem que pelo fato de ser proibido o fermento durante os sete dias da festa pascal, o vinho usado nessa solenidade não devia ser fermentado. O argumento não procede. A fermentação vinosa nunca se chamou fermento. Durante a páscoa, os judeus não deviam beber líquidos fermentados, nem mesmo provar o pão com fermento (Mishna, Pesachoth, 2).” (D. Davis, John – Dicionário da Bíblia, págs. 618, 619. 12ª Edição, Confederação Evangélica do Brasil, JUERP).

Nota-se ainda, que é conveniente falar do vinho misturado:

O vinho com mistura era designado pelas expressões mesek, Sl 75. 8; mimsak, Pv 23. 30; Is 55. 11 (sic), e mezeg, Ct 7. 2, cada uma das quais designava vinho misturado com certas especiarias que lhe davam gosto agradável, Ct 8. 2; Plínio, Hist. Nat. 14. 19, 5, ou com água para enfraquecêlo (sic), Heród. 6. 84.” (D. Davis, John – Dicionário da Bíblia, pág. 619. 12ª Edição, Confederação Evangélica do Brasil, JUERP).

O termo mesek denota “mistura de tempero (para uma bebida)” em Sl 75.8; mimsak denota “recipiente de misturar” em Isaias 65.11; mezeg, em Ct 7.2 denota “vinho misturado”, provavelmente “vinho temperado, quente”; algo que é reprovado em provérbios e outras partes das Escrituras:

Para quem são os ais? Para quem os pesares? Para quem as pelejas? Para quem as queixas? Para quem as feridas sem causa? E para quem os olhos vermelhos? Para os que se demoram perto do vinho, para os que andam buscando vinho misturado (mimsak).” (Provérbios 23.29, 30). - O negrito é meu.

NO NOVO TESTAMENTO

Nas Escrituras Gregas Cristãs o vocábulo vinho (gr. oinos) ocorre 34 vezes, sua primeira ocorrência está registrada em Mateus:

Nem se deita vinho novo (gr. oinon neon) em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho (gr. oinos), e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo (gr. oinon neon) em odres novos, e assim, ambos se conservam.” (Mateus 9.17). - O negrito é meu.

A indicação do vinho (Gr. oinos) não fermentado (como no caso acima), é indicada nas Escrituras quando acompanhado do adjetivo “novo” (Gr. neós):

“O grego oinos também se refere a suco fermentado, salvo quando é acompanhado do adjetivo novo; mesmo assim, não se pode dizer que haja dois vinhos, um fermentado e outro não. O mosto chama-se vinho novo, e só se torna vinho por meio da fermentação.” (D. Davis, John – Dicionário da Bíblia, págs. 618, 619. 12ª Edição, Confederação Evangélica do Brasil, JUERP).

A expressão acima “vinho novo” é traduzido no Novo Testamento Hebraico por yayin chadash (vinho novo) e não por “tîrosh” que é seu equivalente no Antigo Testamento. Sabe-se que João Batista não bebia vinho (hebr. yayin) fermentado e nem bebida forte:

Porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho (gr. oinos), nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo. Já desde o ventre de sua mãe.” (Lucas 1.15). - O negrito é meu.

O que não era bebido por João Batista, era bebido por Jesus:

Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o filho do homem comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada pelos seus filhos.” (Mateus 11.18, 19).

Quanto às comidas e bebidas, Jesus era o inverso de João Batista. Porém regia com moderação e não de maneira imoderada; resultado que não se embriagava comportamento este justificada pela sabedoria. Tanto as acusações dos líderes religiosos contra João de que tinha “demônio”, como as proferidas contra Jesus de que era “beberrão” (ébrio), não passavam de calúnias.Uma passagem Bíblica completamente torcida por teólogos é o das bodas em Caná (João 2. 1,11). Dizem eles que o vinho servido não era fermentado, procurando torcer a Palavra de Deus por suas preferências religiosas. O vocábulo vinho (gr. oinos; hebr. yayin) não é acompanhado do adjetivo “novo” para indicar o contrário, vejamos:

E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (Gr. oinos) (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado água), chamou o mestre-sala ao esposo, e disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho (gr. oinos) bom e, quando já têm bebido bem (gr. methysthõsin = estiverem bêbados), então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.(Gr. oinos = vinho fermentado). (João 2.9, 10). – O negrito e sublinhado são meus.

O texto não se refere a vinho novo ou suco, pois o vinho bom, o melhor, sempre foi considerado o velho, Jesus mesmo o considera como melhor:

E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor (gr. chrêstos = bom) é o velho”. (Lucas 5.39). - O negrito é meu.

Portanto, Jesus transformou a água no melhor vinho (velho) outrora oferecido pelo esposo dono da festa. A expressão dita pelo mestre-sala “bebido bem,” no texto Grego Original é “methysthõsin,” significando “estiverem embriagados”, não se tratando do inofensivo suco; e não foi em simples “suco” (?) que a água foi transformada, o que contraria o texto que é taxativo em apontar bebida alcoólica que "embriaga" quando usada de maneira imoderada. O costume entre os judeus, é que o noivo deve estar e permanecer em jejum no dia do seu casamento para não se embriagar com seus amigos convidados:

Em certas comunidades, o noivo e a noiva jejuam no dia do casamento, enquanto em outras só o noivo segue este costume. Alguns judeus crêem que, se não fosse obrigado a jejuar, o noivo poderia se reunir com seus amigos na celebração pré-nupcial e se embriagar, o que o deixaria em más condições para efetuar as formalidades legais envolvidas na cerimônia de casamento. Não se exige que a noiva jejue pois é considerado pouco provável que os amigos da noiva consumam ou a induzam a consumir bebidas alcoólicas.” (J. Kolatch Alfred. Livro Judaico dos Porquês, pág. 37, 3ª Edição: março de 2001, Editora e Livraria Sêfer Ltda, São Paulo, SP, Brasil). - O negrito é meu.

O costume do casamento entre os judeus é que há exceção para a noiva - em certas comunidades judaicas - que a mesma jejua, pois é “pouco provável” que seus amigos a induza a consumir bebidas alcoólicas. 

NA CEIA DO SENHOR  FOI SERVIDO SUCO DE UVA OU VINHO ALCOÓLICO?

A expressão “fruto da vide” mencionado na Ceia do Senhor, de modo algum significa “suco de uva” (?), algo não fermentado:

"E digo-vos, que desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai." (Mateus 26.29). - O negrito é meu.

O significado judaico e grego à expressão  "fruto da vide":

Fruto da vide, frase falada por Jesus por ocasião de instituir a Santa Ceia, Mt 26. 29; é expressão usada pelos judeus, desde tempos imemoriais, para designar o vinho que tomavam em ocasiões solenes, tais como, pela festa da Páscoa e na tarde do sábado (Mishna, Berakoth, 6. 1). Os gregos também empregavam a mesma frase, como sinônimo de vinho capaz de embriagar, Heród. 1. 211, 212.” (D. Davis, John – Dicionário da Bíblia, pág. 619. 12ª Edição, Confederação Evangélica do Brasil, JUERP). - O negrito é meu.

Até hoje, segundo o costume, os judeus festejam a "Páscoa" (hebr. Pêssach) com vinho alcoólico:

"Como pessoas livres e importantes bebem vinhos bons de qualidade, deve-se procurar, para o Sêder, um vinho forte que contenha álcool e que, de preferência, não seja fervido. Como segunda opção, pode-se usar vinho fervido. Alguém que tem medo de tomar vinho, pois pode ficar tonto e não aguentar o Sêder até o final, é melhor que tome um vinho mais fraco. É mais importante participar do Sêder até o final do que beber um vinho forte. Uma opção é misturar vinho com suco de uva." (Koschland, Meir. Meafelá Leor Gadol - Leis, Costumes e Motivos do Sêder de Pêssach, pág. 58, 2ª Edição, Multcorte Gráfica e Editora, São Paulo, SP, Brasil). - O negrito é meu.

Como todos os da família judia são obrigados a participar do Pêssach (Páscoa), apenas às crianças são dadas o simples "suco de uva":

"É correto dar às crianças suco de uva e não vinho." (Koschland, Meir. Meafelá Leor Gadol - Leis, Costumes e Motivos do Sêder de Pêssach, pág. 60, 2ª Edição, Multcorte Gráfica e Editora, São Paulo, SP, Brasil). - O negrito é meu.

Fica evidente - entre os judeus - a distinção entre "vinho" e "suco de uva" na refeição Pascoal. O vinho servido por Jesus na páscoa é o mesmo servido na Santa Ceia, não era "suco da uva" e muitos confundem "fermentação vinosa" com fermento, sendo coisas distintas:

Dizem que pelo fato de ser proibido o fermento durante os sete dias da festa pascoal, o vinho usado nessa solenidade não devia ser fermentado. O argumento não procede. A fermentação vinosa nunca se chamou fermento.” (D. Davis, John – Dicionário da Bíblia, pág. 619. 12ª Edição, Confederação Evangélica do Brasil, JUERP). – O negrito é meu.

A fermentação vinosa era natural por não conter fermento, o vinho pascoal não recebia nenhum produto para ser  misturado, mas era naturalmente o “bom vinho”, o superior:

O vinho tinto é servido tradicionalmente à mesa do Sêder porque o Talmud considera o vinho tinto superior ao branco.” (J. Kolatch Alfred. Livro Judaico dos Porquês, págs. 218 e 219, 3ª Edição: março de 2001, Editora e Livraria Sêfer Ltda, São Paulo, SP, Brasil). – O negrito é meu.

 Sêder é uma refeição noturna que dá início a festa da páscoa entre os judeus, é mencionada em Mateus 26.17. Nos tempos dos apóstolos ainda havia esse costume, e alguns cristãos bebiam imoderadamente no Sêder, o que levou Paulo a repreendê-los energicamente:

Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se. Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo.” (1 Coríntios 11.21, 22). - O negrito é meu.

O texto acima aponta vinho que embriaga presente na Ceia do Senhor. Vejamos como faziam os judeus para "enfraquecê-lo" na Páscoa:

Todos deveriam ter o cuidado de não o tomarem em excesso. Os meios empregados para neutralizar os efeitos perigosos do vinho, eram: 1. Enfraquecê-lo com água, 2 Mac 15. 39; Heród. 6. 84, como se pode ver no modo de celebrar a Páscoa em que os servos levavam uma vasilha com água quente para misturar no vinho que era usado nessa solenidade (Mishna, Pesachim, 7. 13; 10.2,4,7).” (D. Davis, John – Dicionário da Bíblia, pág. 619. 12ª Edição, Confederação Evangélica do Brasil, JUERP).

A Bibliografia citada da literatura judaica (Mishna, Pesachim, 7.13; 10.2,4,7) é uma prova de que se usava vinho embriagante na "Páscoa" (hebr. pessach) desde tempos imemoriais, o qual Jesus se utilizou. A expressão "fruto da vide" era usada tanto por judeus como pelos gregos como referência ao vinho capaz de embriagar:

"Fruto da vide, frase falada por Jesus por ocasião de instituir a Santa Ceia, Mt 26.29; é expressão usada pelos judeus, desde tempos imemoriais, para designar o vinho que tomavam em ocasiões solenes, tais como, pela festa da Páscoa e na tarde do sábado (Mishna, Berakoth, 6.1). Os gregos também empregavam a mesma frase, como sinônimo de vinho capaz de embriagar, Heród. 1. 211, 212." (D. Davis, Jonh. Dicionário da Bíblia, pág. 619. 12ª Edição, Confederação Evangélica do Brasil, JUERP). - O negrito é meu.

Uma bela alusão da mistura de água no vinho pascoal, seja talvez um símbolo aludindo à devida passagem Bíblica:

"Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água." (João 19.35). - O negrito é meu.

Os líderes da igreja Cristã não deveriam ser pessoas “dadas” (gr. paroinos = escravo da bebida) ao vinho, isto é, “alguém que senta-se por muito tempo com o seu vinho, escravo da bebida” (Rienecker, Fritz; Rogers, Cleon. Chave Linguística do Novo Testamento Grego, pág. 461, 1ª Edição em Português: 1985, Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, São Paulo, SP, Brasil).

Isto é enfatizado nas devidas passagens de 1Timóteo 3.3,8; em Tito 1.7 é recomendado “um pouco” como algo medicinal. A recomendação a todos os crentes não é só referente ao vinho:

Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça.” (Romanos 14.21). - O negrito é meu.

Mesmo assim, o devido verso e contexto em nada proíbem. Entretanto, sempre é bom evitar tudo aquilo que pode trazer transtornos no futuro; afinal, nem todos conseguem reger seu apetite com sabedoria e as Escrituras repreendem energicamente aqueles que se demoram ou se entregam ao vinho. Este estudo foi elaborado para mostrar a verdade escrita na Palavra de Deus, tal qual consta em Seu Sagrado conteúdo, sem enfeites. Informo ao leitor, antes de qualquer pedrada em minha direção, que eu não tomo vinho (salvo, o da Ceia do Senhor) e nenhuma bebida alcoólica ocupa espaço em minha mesa, seja ela de qualquer natureza. Minha posição e missão é o de falar e pregar a verdade das Escrituras tal como Ela é, doa a quem doer. 

Deus vos abençoe.
Romário N. Cardoso

BIBLIOGRAFIA

Bíblia Apologética de Estudo – ICP – Edição Ampliada. Almeida, Corrigida, Fiel – ACF, Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, São Paulo – SP, Brasil;
Bíblia Hebraica Stuttgartensia, Sociedade Bíblica do Brasil, Deutche Bibelgesellschaft;
Septuaginta, Sociedade Bíblica do Brasil, Deutche Bibelgesellschaft;
Bíblia Sagrada, Tradução Brasileira – Edição com Referências, 2011, Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri, São Paulo;
Η ΚΑΙΝΗ ΔΙΑΘΗΚΗ. London. Trinitarian Bible Society - T.B.S;
תורה נביאים כתובים והברית החדשה . London. Trinitarian Bible Society – TBS;
Rienecker, Fritz; Rogers, Cleon. Chave Lingüística do Novo Testamento Grego. 1ª Edição em português - 1985. São Paulo, Brasil. Vida Nova;
Koschland, Meir. Meafelá Leor Gadol - Leis, Costumes e Motivos do Sêder de Pêssach, 2ª Edição, Multcorte Gráfica e Editora, São Paulo, SP, Brasil;
Concordância Fiel do Novo Testamento Grego – Português – Português – Grego. 1ª Edição – 1994. São José dos Campos, São Paulo, Brasil. Editora FIEL;
Rusconi, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento. 2ª Edição, 2005. São Paulo, Brasil. Paulus;
Alonso Schökel, Luis. Dicionário Bíblico Hebraico – Português. 3ª Edição, 2004. São Paulo, Brasil. Paulus;
L. Holladay, William. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. 1ª Edição, 2010. São Paulo, Brasil. Vida Nova;
Vine, W. E.; F. Unger, Merril; White Jr., William. Dicionário Vine – O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento – 2ª Edição, 2003. Rio de Janeiro, Brasil. CPAD;
D. Davis, John – Dicionário da Bíblia, 12ª Edição, Confederação Evangélica do Brasil, JUERP;
J. Kolatch Alfred. Livro Judaico dos Porquês, 3ª Edição: março de 2001, Editora e Livraria Sêfer Ltda, São Paulo, SP, Brasil;
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