quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O ARTIGO 5 DOS PONTOS DE DOUTRINA NO HINÁRIO – LIVRO 5



No Hinário – Livro 4 – o devido ponto doutrinário diz:

 “5. Nós cremos que a regeneração, ou o novo nascimento, só se recebe pela fé em Jesus Cristo, que pelos nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação. Os que estão em Cristo Jesus são novas criaturas. Jesus Cristo, para nós, foi feito por Deus sabedoria, justiça, santificação e redenção. (Rom., 3;24 e 25; I Cor., 1:30; II Cor., 5:17).” – O negrito é meu.
 
Assim, a “regeneração” é apresentada como sendo o mesmo “novo nascimento”, isto é patente pelo significado Bíblico do termo, pois a palavra grega para o substantivo “regeneração” é paliggenesia, termo que é formado de duas palavras, a saber, palin (de novo) e genesis (nascimento); isto é, “nascer de novo” ou “novo nascimento”!

Portanto, a regeneração é o mesmo que novo nascimento, por isso que o devido Hinário 4 diz “regeneração, ou o novo nascimento” (tanto faz o uso de um termo, ou, do outro; dá no mesmo.).
Mas agora, no Hinário – Livro 5 – o devido ponto doutrinário além de modificar a posição das palavras, entre os dois termos acrescentou “e a”, denotando dois acontecimentos espirituais, esse argumento é endossado mais adiante pelo plural “recebem”, em vez de “recebe” – no singular - como consta no livro 4. Ainda que os termos estejam modificados quanto à posição anterior, o significado dos dois termos continua sendo “uno” (um só), não há problema algum. A questão interessante é levantada no acréscimo de “e a” e pelo plural “recebem”, denotando duas coisas recebidas “novo nascimento” (regeneração) e “regeneração” (novo nascimento); antes de entrar no mérito da questão, vejamos como ficou com essa alteração:

“5. Nós cremos que o novo nascimento e a regeneração só se recebem pela fé em Jesus Cristo, que pelos nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação. Os que estão em Cristo Jesus são novas criaturas. Jesus Cristo, para nós, foi feito por Deus sabedoria, justiça, santificação e redenção. (Romanos, 3:24-25; I Coríntios, 1:30; II Coríntios, 5:17)”. – O negrito é meu.

Jesus manifestou a necessidade do ser humano nascer de novo, e isto, envolve o nascer da “água” e do “Espírito”; portanto, duas coisas: "da água e do Espírito."

Com efeito:

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer (genesis) da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” (João 3.5,6). – O negrito é meu.

Ora, o ponto doutrinário distingue os dois nascimentos, o nascimento da água e do Espírito que só se recebem pela fé em Jesus Cristo. Nota-se que esse “e do” serve para distinguir uma coisa da outra. Um exemplo disto é Mateus 28.19, onde “e do” é termo distintivo entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, como pessoas distintas.

O nascer da “água”, amados, não se refere às águas batismais, mas a mesma água que mata nossa “sede” espiritual (João 7.37) e nos “limpa” de nossos pecados (João 15.3), a Palavra de Deus. Somente Cristo pode nos saciar com sua água e nos limpar, a Escritura mostra a necessidade do novo nascimento, cujo nascimento é gerado pela Palavra (Tiago 1.18). O nascer da “água” não deve ser separada do nascer do “Espírito”, pois há relato na Bíblia de pessoas que nasceram da “água” – palavra pregada por João Batista – sem terem o conhecimento da pessoa e obra do “Espírito Santo”:

Disse-lhes: Recebestes vós o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo.” (Atos 19.2).

Portanto, só Jesus pode nos fornecer a água e o Espírito para o ser humano nascer pela fé, não do que é terreno, mas de Deus:

Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. (João 1.13). – O negrito é meu.

Sendo Deus Espírito, a água fornecida é espiritual e não material. O que nasce da matéria é matéria, mas o que nasce de Deus é espiritual, coisa que Nicodemos não compreendia (João 3.4,5). Pela Palavra (água) o Espírito (João 16.8) convence o homem do pecado, e da justiça e do juízo, sem o Espírito, não há novo nascimento para o ser humano! Esse novo nascimento só se recebe pela fé em Jesus Cristo, conforme as referências de doutrina contida no artigo 5: 

Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus. Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus”. (Romanos 3.24,25)

Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção”. (I Cor 1.30).

Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (II Coríntios 5.17).

Sim, em Cristo tudo se fez “novo”, e isto se inicia no novo nascimento, o nascimento da água e do Espírito presente nela, a água divina que nos gerou em Cristo (Tiago 1.18). Finalmente, “regeneração” e “novo nascimento” são duas palavras, mas um mesmo significado; a “água” e o “Espírito” possuem um só propósito: regenerar o homem. 

Deus abençoe.

Romário N. Cardoso

Fontes:
. Hinos de Louvores e Súplicas a Deus – Livro 4 – CCB;
. Hinos de Louvores e Súplicas a Deus – Livro 5 – CCB;
 A Bíblia Sagrada – Almeida Corrigida Fiel. São Paulo, Brasil. SBTB;
. O Novo Testamento – O Texto Grego Base da Versão João Ferreira de Almeida de 1681, Trinitarian Bible Society, London;
. Rusconi, Carlo. Dicionário do Grego do Novo Testamento – Paulus.



quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O SANGUE DE CRISTO NÃO É TINTA QUE BORRA, É BORRACHA QUE APAGA!



Em o Novo Testamento Grego, o verbo “exaleiphõ” (apagar) ocorre 5 vezes, a saber:

1. Atos 3.19: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para serem apagados os vossos pecados, de sorte que da presença do Senhor venham tempos de refrigério.” 

2. Colossenses 2.14: “Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz”.

3. Apocalípse 3.5: “O vencedor será assim vestido de vestes brancas; não apagarei o seu nome no livro da vida e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.”

4. Apocalípse 7.17: “Porque o Cordeiro que está no meio do trono os pastoreará e os conduzirá às fontes da água da vida. E Deus enxugará toda a lágrima dos olhos deles.”

5. Apocalípse 21.4: “E enxugará toda a lágrima dos olhos deles” (...). (Os negritos são meus).

Portanto, o vocábulo grego exaleiphõ significa “apagar”, transmitindo a idéia de remover algo, enxugar. Segundo o erudito William Barklay, nos tempos do Novo Testamento os documentos eram escritos em papiro, e a tinta era fabricada de “fuligem misturada com goma e diluída na água.” Diz mais, que a característica da tinta “não contém ácido” e, por esta causa, não penetrava no papiro: “Tem muita durabilidade e mantém a sua cor, mas se, logo depois de escrever, uma esponja molhada for passada pela superfície do papiro, a escrita pode ser apagada pelo contato da esponja, tão completamente como a escrita em giz pode ser apagada da lousa.

Em nossas Bíblias ARC, consta uma tradução não satisfatória... “riscado a cédula”:


Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz.” (Colossenses 2.14).

Porém, analisando o original não encontrei o verbo ‘riscar’, mas tão somente “apagar”! 

Conferindo:
εξαλειψας το καθ ημων χειρογραφον τοις δογμασιν ο ην υπεναντιον ημιν και αυτο ηρκεν εκ του μεσου προσηλωσας αυτο τω σταυρω.” (Novo Testamento Grego – Textus Receptus, Trinitarian Bible Society).


Portanto, “exaleipsas” (gr.εξαλειψας) significa “apagado”, para riscar o termo seria “chizein” (riscou). Riscar é fazer um X atravessando toda a cédula, “chizein”, vem da letra grega X (chi = quí). Ora, irmãos, “riscar” e “apagar” são termos e acontecimentos distintos, diferentes; se o homem ‘riscar’ (gr.chizein) alguma dívida pendente numa nota promissória, a mesma dívida continuará presente lá, em memória, ainda que riscada; porém, com Deus é diferente, ele prometeu que iria “apagar”, remover completamente do seu memorial.

O homem pode perdoar uma ofensa cometida contra ele, contudo, não consegue “apagá-la” de sua memória; mas Deus prometeu apagar, removendo-a completamente de seu memorial!

Vede quão grandes coisas fez o Senhor a nós!

Outrossim, segundo o erudito William Barklay, os documentos nos tempos dos apóstolos eram escritos em papiro, a tinta preparada para tal material era composta de fuligem misturada com goma e diluída em água, por isso, não possuía ácido em sua composição para que a mesma tivesse poder de penetração na folha de papiro, sendo removida completamente por alguma esponja molhada.

Pelo Sangue do Concerto Eterno, os nossos pecados foram apagados – completamente - da cédula que nos era contrária; assim, Deus mesmo foi quem disse: 
E dos seus pecados não me lembrarei mais” (Hebreus 8.12). Eu, eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões por amor de mim; não me lembrarei dos teus pecados. (Isaias 43.25).

Como disse certo irmão: “O Sangue de Jesus não é tinta que borra, é borracha que apaga”!

Não é maravilhoso? 

Romário N. Cardoso

Fontes:

. O Novo Testamento – O Texto Grego Base da Versão João Ferreira de Almeida de 1681, Trinitarian Bible Society, London;
. Barklay, William. Palavras Chaves do Novo Testamento, Vol. 1, Vida Nova, São Paulo, SP, Brasil;
. A Bíblia Sagrada – Almeida Corrigida Fiel. São Paulo, Brasil. SBTB.

sábado, 26 de janeiro de 2013

2º PONTO DOUTRINÁRIO: DOUTRINA DA TRINDADE


Com respeito aos Pontos de Doutrinas e da Fé, a Congregação afirma em seu artigo 2:

“2. Nós cremos que há um só Deus vivente e verdadeiro, eterno e de infinito poder, Criador de todas as coisas, em cuja unidade estão o Pai, o Filho e o Espírito Santo. (Efésios, 4:6; Mateus, 28:19; IJoão, 5:7).

Nota: Esta redação acima não permite duas interpretações, além do que quem afirma O CONTRÁRIO, não procura explicar TODO o artigo 2, as referências Bíblicas acima (Efésios, 4:6; Mateus, 28:19; IJoão, 5:7) que enfatizam o real sentido do que é dito e que são os pilares do que é afirmado, são omitidas por eles para 'provar'(?) seus argumentos. Minha explicação é completa ao não deixar nada de fora, agora examinem as explicações contrárias, só explicam com omissões. Gostaria que explicassem o termo "ESTÃO" à luz do contexto do artigo, 1 João 5.7. Não fazem isto, porque seria como dinamitar seus textos e ainda acionar o detonador! Seus argumentos iriam pelos ares (BUUMM!!).

O erro dos que são contra a mudança do artigo anterior, para o acima mencionado,  se faz presente apenas no vocábulo "estão". Eles perguntam ainda, como o termo pode ser aplicável às "três pessoas distintas"? O erro dos tais está em não observar o ponto doutrinário como num todo, mas apenas o que lhes interessa desprezando todo o contexto. As três pessoas distintas presentes em nosso artigo, estão nas "três testemunhas" referidas pelo mesmo artigo de fé, cuja referência está indicada em I João 5.7; alí ESTÃO as três pessoas. O termo "estão," presente em nosso artigo de fé, deve ser analizado dentro deste mesmo artigo para não se fazer salada do verbo "estar" dentro de outros versos que nada tem a ver com o contexto do ponto doutrinário. Um exemplo: A palavra "manga". Em um verso pode se referir a manga de camisa, em outro ao nome de uma fruta, em outro, o nome de uma cidade. Para afastar toda essa CONFUSÃO como se uma única palavra tenha significados variados dentro do artigo, a forma correta e autêntica é interpretá-la dentro do contexto em que ela é apresentada, e isto sem deixar NADA de fora, esta é a minha proposta neste blog. Uma palavra pode ter aplicações distintas e variadas (como demonstrei), por isso se requer que o mesmo seja entendido dentro do contexto do nosso artigo de fé. Um exemplo disto é a referência apresentada em nosso ponto doutrinário, I João 5.7, que diz:

Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um.

Veja que o texto diz " três são os" e apresenta pessoas que "testificam". Quando o nosso artigo menciona esta passagem, diz que na unidade "estão" as três pessoas ou testemunhas (1 João 5.7). No decorrer deste estudo, o querido leitor irá compreender o que digo. Para que nosso artigo de fé seja interpretado com fidelidade, deve-se interpretar a expressão "estão" à luz do contexto em que está, e não fora dela. Diz um sábio ditado, texto sem contexto é pretexto, e é o que fazem ao apresentar a palavra "estão" fora do contexto do devido tópico; quem faz isso apenas está a torcer o sentido dada pela doutrina.

Posto isto em mente, iniciemos o estudo: 

Ao dizer "estão" em vez de está (singular), reforça-se a pluralidade de pessoas, isto é, o Pai, o Filho (Palavra) e o Espírito Santo (I João 5.7). Afirma-se que há "um só" (hebr. 'echad) Deus, este "um só" não indica quantidade numérica, tipo "um, dois, três deuses" (?), isso é triteísmo, a nossa crença é monoteísta! Quando afirmamos um só Deus, estamos dizendo que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são da mesma natureza Divina. A Congregação explica que esse "um só" (hebr. 'echad) é uma "unidade", isto é, unidade composta, tal qual duas pessoas, o homem e a mulher (Gn 2.24) são "uma só" (hebr. 'echad) carne. Assim, pela unidade composta, a Congregação descarta a ideia equivocada de 'três manifestações' (?) como crêem - erroneamente - os unicistas. Jesus é "um" (hebr. 'echad) com o Pai (João 10.30) e orou para que todos os crentes fossem "um" (hebr. 'echad), assim como Ele é "um" (hebr. 'echad) com o Pai (João 17.22). 

Curiosamente, o irmão Ricardo comentou a passagem acima em seu blog, mas omitindo a parte conclusiva, minha fala está de vermelho e a dele de azul, confira:  "Ao dizer “estão” em vez de está (singular), reforça-se a pluralidade de pessoas (ou coisas)Esta é a regra, porém para toda regra existem exceções." http://bereiano.wordpress.com/2013/02/22/onde-estao-as-tres-pessoas-distintas/#comments 

 Note o leitor, que o amado irmão Ricardo omitiu fazendo um "corte" não indo além da palavra "pessoas" cuja minha frase restante é a conclusiva: "isto é, o Pai, o Filho (Palavra) e o Espírito Santo (I João 5.7)." No lugar disto, ele interpretou como "OU COISAS" (???)! Francamente! Meu estudo não deixa margem de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam "COISAS", será porque ele repudiou os termos restantes junto a referência conclusiva que é I João 5.7? A resposta é que meu texto explica o "estão" dentro (e não fora) do ponto doutrinário que leva à uma das nossas bases de doutrina que é I João 5.7, tal referência fala de pessoas que TESTIFICAM, e ele sabe disto mas preferiu omitir a parte conclusiva (para torcê-la?), somente omitindo-a ele poderia 'provar' (?) seus argumentos.

Continuando... Portanto, esta unidade manifesta uma pluralidade de pessoas unidas em um só intento. Esta é a crença genuinamente Trinitariana que defendemos e que está presente em nosso ponto doutrinário. 

Analisemos as referências, onde a Congregação fundamenta sua doutrina trinitariana:

Efésios, 4:6:Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.

Comentário: O texto está falando de pessoas, Deus e Pai de todos, logicamente de seus filhos, todos nós, pessoas.


Mateus, 28:19:Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.”

Comentário: Observa-se que "nome" está no singular, mostrando o Pai com outras pessoas. O nome manifesta o caráter (gr. charakter), o traço característico ou a marca distintiva do ser de Deus. Assim, o singular “nome” indica que tanto o Pai quanto o Filho e o Espírito Santo possuem a mesma característica divina, possuem o mesmo caráter, a mesma essência substancial do ser, da natureza do outro, conforme Hebreus 1.3. Quem ver Jesus é o mesmo que ver o Pai: (...) “Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (João 14.8,9,10). Isaias viu o Rei, Javé dos Exércitos, mas para Paulo é o mesmo que ter visto o Espírito Santo (Isaias 6.5.8; Atos 28.25,26). Outrossim, o singular “nome,” traz a característica "una" do Pai, do Filho e do Espírito Santo.


I João, 5:7:Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um.

Comentário: Nossa doutrina manifesta a crença de que em Deus há três pessoas distintas, pois para dar testemunho de algo, as Escrituras (Deuteronômio 17.6) exigem que sejam dadas por duas ou três pessoas (Mateus 18.16; Atos 5.32). Em Atos 5.32, o Espírito Santo está entre pessoas como testemunhas.

O Trinitarista e erudito Louis Berkhof, na primeira parte do livro de sua lavra intitulada “Teologia Sistemática”, apresenta vária doutrinas, entre elas está a “Doutrina de Deus”, cujo teor trata-se da “Doutrina da Trindade”. Ao apresentar a doutrina presente em várias partes do Antigo Testamento, adentrando no Novo manifestou vários textos que apóiam a crença Trinitariana. Mas o único verso que fala de Trindade (três testemunhas/pessoas - em Deus) de forma direta no Novo Testamento, é exatamente uma em que nosso credo possui sua referência de formulação doutrinária, a saber, I João 5.7. Vejamos o que ele diz sobre ela:

A única passagem que fala de trindade é 1Jo 5.7, mas sua genuinidade é duvidosa, razão pela qual foi eliminada das mais recentes edições críticas do Novo Testamento.” (Berkhof, Louis. Teologia Sistemática, pág. 83, 3ª Edição - 2008. São Paulo, Brasil. Editora Cultura Cristã).


Mas a devida referência está presente em todos os credos que crêem na Trindade, menos entre os unitaristas. Como se pode observar, basta o nosso ponto doutrinário estar amparado em I João 5.7 para nosso credo doutrinário ser facilmente reconhecido como Trinitário, o que vem a denotar falta de conhecimento por parte de quem pensa de forma contrária. Contra fato, não há argumento. Entretanto, também sou partidário de que para evitar murmuração, não deveriam retirar o termo “três pessoas distintas”, embora “I João 5.7” transmita claramente esta doutrina. Destarte, quem possui os olhos embaçados não conseguirá compreender isto com facilidade, o que já está comprovado pelo teor dos nossos críticos.

Assim, a CCB segue fielmente estas três referências, e, pelo fato de a palavra "pessoas" não constar em Efésios 4.6; Mateus 28.19; I João 5.7, as devidas passagens apontam explicitamente que se referem a pessoas, não negando a personalidade do Deus Triúno, o mesmo se dá com a Congregação Cristã, cuja crença doutrinária está amparada nos Textos Sagrados supramencionados. Dizer que os Textos Bíblicos não se referem às pessoas, é o mesmo que atacar estas três referências supracitadas, é usar de argumentos espúrios contra nossa fé, validada pela ortodoxia cristã presente na Palavra de Deus.

Nota: Embora o verso de I João, 5:7 não constar nos manuscritos mais antigos do Novo Testamento Grego, a CCB adota a versão João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida; tal versão apóia-se no Textus Receptus (Texto Recebido), tal texto é amparado por cerca de 95% a 98% de todos os Manuscritos existentes. Os Textos mais antigos que não constam o verso supracitado são chamados de Texto Crítico, onde há sérios erros, omissões e contradições, sendo até mesmo rejeitados por vários eruditos. O Textus Receptus - ou Texto Bizantino - como também é conhecido, é o mais confiável em razão de sua pureza e do uso contínuo pelos cristãos primitivos, o mesmo não se deu com o Texto Crítico. Não irei, aqui, entrar em detalhes quanto a isto, pois o objetivo deste tópico é discorrer sobre a doutrina da Trindade, e não uma exposição dos antigos manuscritos.

DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO – O primeiro livro da Bíblia Hebraica é chamado de “bere’shît” (no princípio),  é desta forma que se inicia os Escritos Sagrados:

“No princípio (bere’shît) criou Deus os céus e a terra”. (Gn 1.1). Translitera-se do hebraico: “bere’shît bara’ ‘elohîm ‘et hashamayim ve’et ha’aretz”. (o negrito é meu).

Nota-se, aqui o vocábulo usado para designar Deus é ‘elohîm, cujo termo encontra-se – literalmente – no plural gramatical de ’eloah, sendo reconhecido como um plural “majestático”, mas traduzido no singular referindo-se ao único e verdadeiro Deus, o Deus de Israel. O vocábulo ‘elohîm ocorre cerca de 2250 vezes no Antigo Testamento, cuja palavra é usada, também, para referir-se aos falsos “deuses” (‘elohîm). 

Portanto, o vocábulo Deus manifesta a Divindade do Criador, o que ele é para as Suas criaturas. As Escrituras revelam que há uma pluralidade de pessoas em Deus; na criação de tudo o que existe, quer seja material ou espiritual, estava o Pai, o Filho e o Espírito Santo em ação. Em razão disto, Deus fala de si mesmo no plural dizendo “façamos” e “nossa imagem” (Gênesis 1.26). Após a queda do ser humano, Deus (‘elohîm) afirma que “o humano” (hebr. ha‘adam) se tornou “como um de nós” (ke’achad mimennu) - Gênesis 3.22. Ora, nenhuma pessoa fala de si mesmo no plural sem que outras pessoas estejam com ela com um só propósito.

O nosso Deus é uma unidade composta:

Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.” (Deuteronômio 6.4). Translitera-se do hebraico: “shema‘ Yisra’el YHVH ‘eloheynu YHVH ‘echad.”

O termo ‘echad (um) é uma unidade composta, acerca do homem e da mulher (Gênesis 2.24) os dois são “uma” (‘echad) carne. Assim, o termo hebraico ‘echad, não está afirmando ser “um” no sentido numérico, mas um de unidade composta, dois seres da mesma natureza se tornam uma só carne (Gênesis 2.24). O Pai, o Filho e o Espírito Santo são da mesma natureza divina, um só Deus. O Filho é a Palavra, é Criador de tudo com o Pai e com o Espírito Santo. O homem foi feito pelo Espírito Santo:

O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo Poderoso me deu vida.” (Jó 33.4).

Assim, a Escritura explica a doutrina Trinitária, o Espírito Santo é “um” (‘echad) em Deus (‘elohîm), em razão de Deus dizer de si mesmo “Façamos o homem” – Gênesis 1.26 (hebr. na’aseh ’adam) sendo Deus o Espírito Santo, Criador do homem. Portanto, o Espírito de Deus é distinto do fôlego de vida. Jacó afirmou que Deus (‘elohîm) se revelou para ele (Gênesis 35.7); o que muitos não sabem, é que em nossas Bíblias de língua portuguesa a palavra "revelar" no devido verso está no singular, mas no Original Hebraico está no plural “Deus se revelaram a ele”!

Deus se “revelaram” para ele, Jacó:

 “niglu ’elaiv ha’elohîm” (Gênesis 35.7). A locução verbal “niglu” (hebr. se revelaram) é plural. Portanto, mais uma vez afirma-se uma pluralidade de pessoas na Divindade. O Filho de Deus é chamado de ’el giborDeus forte (Isaias 9.6) assim como o Pai é ’el giborDeus forte (Isaias 10.21); o Filho não só é eterno, como é chamado de “Pai da Eternidade” (Isaias 9.6), sendo, assim, provedor da vida eterna a todos que nEle crêem.

DEUS NO NOVO TESTAMENTO – O Deus Eterno e Verdadeiro, Único Senhor e Soberano revela-se no Novo Testamento mostrando ser a Trindade, doutrina irrefutável e abundante nos escritos da Nova Aliança. O Antigo Testamento aponta a vinda de Deus entre os homens, o Novo Testamento apresenta a chegada e o cumprimento dessas profecias. Isaias profetizou (Isaias 7.14; 8.8) o nascimento do Emanuel (hebr. ‘immanu ’el = Deus conosco), o Novo Testamento registrou a chegada do Deus conosco, Jesus.

No Evangelho de João 1.1, a Palavra, o Verbo, o Logos é Deus. No Novo Testamento Grego é Theós que no Hebraico corresponde a ’elohîm. O apóstolo João iniciou seu evangelho dizendo “no princípio”, aludindo ao primeiro livro da Bíblia cujo nome em Hebraico (hebr. bere’shit) significa “no princípio”. Assim João testificou que no princípio o “Verbo era Deus” (hebr. elohîm); indicando o Filho como sendo o Deus Criador, a Palavra que tudo criou. Jesus é um “parákleto” – I João 2.1 (advogado, consolador), o Espírito Santo é “outro” (João 14.16) – allos, da mesma natureza. Quando a incredulidade de Tomé foi dissipada, ele pôde reconhecer publicamente a Jesus chamando-o de “o Senhor meu e o Deus meu” (João 20.28):

ho Kyrios mou kai ho Theos mou. (João 20.28).

Todas as criaturas devem honrar Deus, o Pai, prestando-lhe adoração, esta mesma honra deve ser dirigida ao Filho:

Para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.” (João 5.23). 

De fato: "E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem." (Hebreus 1.6).

Jesus Cristo é o Verdadeiro Deus:

E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.” (I João 5.20).

Nota-se que Isaias viu o Rei, o YHVH dos Exércitos - Adonay – e que Este falou com ele (Isaias 6.5, 9,10), mas o apóstolo Paulo disse aos judeus que quem Isaias viu e falou com ele foi o Espírito Santo (Atos 28.25,26,27):

Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos. (...) Então disse ele: Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis. Engorda o coração deste povo, e faze-lhe pesados os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não veja com os seus olhos, e não ouça com os seus ouvidos, nem entenda com o coração, nem se converta e seja sarado.” (Isaias 6.5,9,10). – O itálico e negrito são meus.

Paulo disse que, quem Isaias viu e falou, foi o Espírito Santo:

E, como ficaram entre si discordes, despediram-se, dizendo Paulo esta palavra: Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaias, dizendo: Vai a este povo, e de maneira nenhuma entendereis; e vendo vereis, e de maneira nenhuma percebereis. Porquanto o coração deste povo está endurecido, e com os ouvidos ouviram pesadamente, e fecharam os olhos, para que nunca com os olhos vejam, nem com os ouvidos ouçam, nem do coração entendam, e se convertam, e eu os cure.” (Atos 28.25,26,27). - O itálico e negrito são meus.

Portanto, o nosso artigo de fé, trinitariano, está muito bem fundamentado na Palavra de Deus (hebr. ‘elohîm). Finalmente, há muitas outras passagens que não foram mencionadas, e, é salutar explicar que embora não haja na Escritura a palavra “Trindade”, tal termo serve apenas para expressar uma doutrina presente nas Escrituras, do mesmo modo que a palavra “lei da gravidade” também não existe na Bíblia, o termo serve apenas para dar nome ao que a Bíblia chama de “palavra do seu poder” que sustenta e move todas as coisas (Hebreus 1.3).

Deus vos abençoe.

Romário N. Cardoso

Fontes:

. Hinos de Louvores e Súplicas a Deus - Livro nº 5, Pontos de Doutrina e da Fé que uma vez foi dada aos Santos, CCB;
. Antigo Testamento Interlinear Hebraico Português, Vol. I – Torah. Sociedade Bíblica do Brasil;
. Bíblia Hebraica Stuttgartensia. Sociedade Bíblica do Brasil;
. O Novo Testamento – O Texto Grego, Base da Versão de João Ferreira de Almeida de 1681, Trinitarian Bible Society;
. Bíblia Apologética de Estudo, ICP – Instituto Cristão de Pesquisa;
. Holladay, William L. Léxico Hebraico e Aramaico do Antigo Testamento. Vida Nova;
. Schökel, Luiz Alonso. Dicionário Bíblico Hebraico-Português, Paulus.